Arcebispo da Paraíba está proibido de ordenar padres e diáconos e de receber novos seminaristas até que o Vaticano finalize investigações em curso.
Pode celebrar missa e casamento, mas não pode ordenar padres e diáconos. É com essa limitação que o arcebispo dom Aldo Pagotto continua à frente da Arquidiocese da Paraíba, onde chegou no ano de 2004. Quem revela essa restrição é um grupo de padres, que pediu o anonimato para esmiuçar o que acontece nos bastidores da Igreja Católica na Paraíba. Dom Aldo estaria proibido de ordenar presbíteros e diáconos, desde o início deste ano, por determinação do Vaticano.
A crise no clero da Paraíba não se instalou da noite para o dia. Segundo um padre que não quis se identificar, a insatisfação com o arcebispo foi crescendo ao longo dos anos. O ápice se deu em 2013, quando ocorreu uma visita canônica, ocasião na qual um representante do Vaticano veio a João Pessoa com a missão de ouvir os religiosos sobre a realidade vivida na Arquidiocese da Paraíba. Ao todo, 26 padres prestaram depoimentos contrários à conduta de Pagotto.
A visita canônica ou visita apostólica é uma iniciativa da Santa Sé, que prevê o envio de um representante – visitador apostólico – para avaliar um instituto eclesiástico, como uma diocese. No caso da Paraíba, o visitador apostólico foi o então arcebispo de Garanhuns (PE), dom Fernando Guimarães, hoje arcebispo da Diocese Militar em Brasília.
Um relatório foi feito e se transformou em um processo que tramita na alta cúpula da Igreja. No início deste ano, segundo o grupo de padres, dom Aldo foi a Roma prestar esclarecimentos sobre as investigações envolvendo seu nome. A expectativa é de que o Vaticano emita um parecer sobre a situação até novembro próximo, que pode ser, inclusive, a saída de dom Aldo.
A reportagem procurou a Nunciatura Apostólica, em Brasília, onde foi dito que o órgão não presta informações sobre nenhum processo, independentemente de sua natureza. A Nunciatura, que representa o Vaticano no Brasil, recomendou procurar a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que, por sua vez, não enviou resposta ao que foi solicitado.
As reclamações são muitas, mas o pedido dos religiosos é claro: eles querem a saída do arcebispo. A principal queixa contra Pagotto é a falta de diálogo e a tomada de decisões de forma unilateral. “Ele não ouve ninguém, não consulta quem deve ser consultado. É um bispo que se considera dono da Igreja”, reclama um dos padres. Nem mesmo o Conselho Presbiteral participaria das decisões do arcebispo, segundo o grupo.
Suspenso de ordenar, dom Aldo tenta se defender do que classifica de denúncias infundadas. A Arquidiocese da Paraíba rebate a informação e diz que isso não existe. Contudo, revela que não há previsão de nova ordenação. A decisão de ordenar presbíteros e diáconos é exclusiva do bispo, segundo os regulamentos da Igreja Católica. Em outras palavras: é o bispo quem decide quando deve ordenar novos padres e diáconos, quando achar que eles estão prontos para isso, sem ter que se alongar nas explicações. A arquidiocese pede provas em relação às denúncias.
Procurado pela reportagem para dar sua versão, o arcebispo limitou-se a dizer a seguinte frase:"Isso de novo? É tudo calúnia". Depois disso, todas as respostas foram dadas pela assessoria de imprensa da Arquidiocese da Paraíba.
Religiosos criticam presença do bispo em protestos
Dividido, o clero da Paraíba vê dom Aldo como “o bispo que não deu certo”. O ministério dele não é aprovado, assim como suas atitudes. Recentemente, a presença do arcebispo nas manifestações de rua pedindo impeachment da presidente Dilma Rousseff foi vista como uma afronta ao que prega a Igreja. Ironicamente, o bispo que vai às ruas pedir a saída da presidente, enfrenta o pedido de impeachment dentro de sua própria Igreja.
Os padres lamentam o envolvimento de Pagotto em escândalos. “A presença de dom Aldo em manifestações de rua arranha a imagem da Igreja, e isso não é visto. Ele não representa a Igreja nesses e em muitos outros momentos”, declara um dos párocos. Os religiosos esperam de Roma uma solução: a saída de dom Aldo.
Um bispo de decisão forte, que enfrenta as denúncias sem se abalar. É assim que a Arquidiocese da Paraíba descreve dom Aldo Pagotto, que completa 66 anos no próximo dia 16. Há 11 anos na Paraíba, depois de ser bispo em Sobral, no Ceará, ele rebate as denúncias. Afirma que são infundadas e sem lógica. Nega que esteja proibido de ordenar presbíteros e diáconos e diz que o calendário de ordenação segue normalmente. A última aconteceu em dezembro do ano passado, mas a próxima ainda não tem data prevista.
Segundo a Arquidiocese, o arcebispo consulta os conselhos presbiteral e pastoral, mas sua decisão é soberana, conforme preveem as normas da Igreja. As reuniões acontecem normalmente. A última delas, com o conselho pastoral, foi realizada no dia 22 de agosto. É durante essas reuniões que surgem discussões como, por exemplo, a transferência de padres de uma paróquia para outra. O objetivo dessa mudança, explica a Arquidiocese, é para evitar comodismo entre os padres.
Pagotto não esconde que vai às ruas durante as manifestações. Mas diz que o intuito é o de pedir ética e transparência na política. Embora já tenha sido visto ao lado de lideranças políticas durante o tempo em que está na Paraíba, ele afirma que não se envolve com política partidária. Pagotto não vê problema, por exemplo, em “se vestir” com a bandeira do Brasil e se juntar a outros manifestantes que pedem a saída da presidente.
Fonte/Jornal da Paraíba