sexta-feira, 2 de março de 2012

Pacientes sofrem com atendimento precário do SUS em João Pessoa


Maurício Melo e André ResendeDo G1 PB
Daniele Farias tem tido problema para conseguir o medicamento receitado (Foto: André Olímpio/G1 PB)Daniele Farias tem tido problema para conseguir o
medicamento receitado (Foto: André Olímpio/G1 PB)
Pacientes que dependem do SUS para se tratar em João Pessoa sofrem por conta da falta de medicamentos e de equipes médicas, além de enfrentar a superlotação dos princiapais hospitais públicos e até uso indevido de ferramentas domésticas em procedimentos cirúrgicos.
A assistente social de 32 anos, Daniele Farias, luta desde 2009 para ter o tratamento de um câncer na tireoide pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em João Pessoa. Parte do tratamento inicial que resultou na remoção da glândula, foi feito pelo Hospital Filantrópico Napoleão Laureano, em João Pessoa, que atende pelo SUS.
Entretanto, apesar da retirada da tireoide, as células cancerígenas se espalharam pela região do pescoço e só uma sessão de radioiodoterapia em sua dose máxima pode evitar que estas células se espalhem pelo resto do corpo da assistente social.
Para que Daniele seja submetida à radioiodoterapia é preciso que o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) da Paraíba, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, autorize o tratamento fora do estado, uma vez que não existe aparato adequado em João Pessoa. Mas os diretores do órgão alegam que o quadro clínico de Daniele não é grave e que por isso não precisaria desta aplicação de radioiodoterapia.
No entanto, segundo a paciente, diversos laudos médicos atestam o contrário. “Faço mais de 20 exames por mês. Quando vou ao TFD, mostro laudos que comprovam a urgência desse tratamento, mas a diretora de lá discorda e alega que uma dose de 100 microcuries é suficiente. Tenho laudos que comprovam que preciso de pelo menos 200”, garante.
A espera fez com que Daniele buscasse até o Ministério Público para que a radioiodoterapia fosse alcançada, medida que ainda não surtiu efeito. Enquanto a liberação do tratamento não vem, Daniele continua sua rotina de 13 comprimidos diários sem perder as esperanças.
Após o G1 relatar o caso da assistente social à Secretaria de Estado da Saúde, a assessoria de imprensa informou que as sessões de radioterapia da paciente em Recife foram marcadas para abril.
A situação não é muito diferente da que enfrenta a dona de casa Isabel Cosme da Silva, de 31 anos. Ela convive com diálise há 12 anos e há dois está na fila para transplante de rim. Mas Isabel faz questão de defender o hospital São Vicente Paula, onde faz tratamento e onde deveriam acontecer as cirurgias, “o hospital está pronto, só falta equipe médica”.
Sobre os medicamentos que é obrigada a tomar todos os dias, a dona de casa diz que sempre falta na farmácia do SUS. “Quando não tem para ser entregue a gente compra na farmácia. Quando não tem dinheiro para comprar, fica sem mesmo.”
De acordo com a Associação dos Renais Crônicos, Transplantados e Doadores da Paraíba, durante todo o ano de 2011 apenas um transplante foi realizado em João Pessoa por falta de equipe médica. “Os médicos reclamam dos valores pagos pelo procedimento e se negam a fazê-lo”, explicou Alex Carneiro, um dos diretores da associação.
Ele diz ainda que os órgãos captados nos hospitais de João Pessoa, como o Hospital de Emergência e Trauma, acabam sendo levados para Campina Grande ou até para outros estados, para não serem desperdiçados.
De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Waldson Souza, após uma reunião com o Ministério Público na segunda-feira (27) R$ 1,2 milhão serão destinados ao fortalecimento do sistema de transplantes. Recursos que representam um acréscimo de 20% na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), que hoje paga R$ 5.313,33 por um transplante renal, segundo ele. Waldson disse que a meta do Governo do Estado é realizar uma média de cerca de 90 transplantes de rim por ano.
Hospital de Emergência e Trauma (Foto: Divulgação/MPPB)Por falta de leitos, pacientes foram atendidos em
macas espalhadas pelos corredores
(Foto: Divulgação/MPPB)
Superlotação
No fim do ano passado o promotor de Defesa da Saúde de João Pessoa, João Geraldo Carneiro, denunciou o governo da Paraíba junto à 2ª Vara da Fazenda Pública da capital por conta da superlotação no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, que atende pelo SUS.
De acordo com a ação, ao manter um número alto de pacientes na unidade, a administração estadual descumpre uma determinação judicial que ordenou que fossem tomadas providências para evitar o excedente de pacientes na unidade.
Em inspeção feita em 25 de agosto, o Ministério Público constatou que a unidade tinha 183 pacientes internos, quando o número de leitos na época era 148. Segundo o promotor João Geraldo, a maioria estava em estado grave e acomodada em macas, na Unidade de Tratamento Intensivo e também nas enfermarias. E, por conta da falta de leitos, vários pacientes estavam sendo tratados em macas espalhadas por corredores.
Segundo nota da Secretaria de Saúde, não existe mais problema de superlotação no Hospital Estadual de Emergência e Trauma de João Pessoa. O governo do Estado inaugurou, em 14 de fevereiro a reforma da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) deste hospital, que, segundo a assessoria, teve aumento de 95,8% no número de leitos do setor. Foram investidos aproximadamente R$ 2 milhões na reforma e compra de equipamentos.
Médico apresenta furadeiras usadas em cirurgias em João Pessoa (Foto: Divulgação)Médicos enviaram fotos e vídeos de furadeiras
usadas em cirurgias (Foto: Divulgação)
Furadeira doméstica
Entre os casos que tiveram destaque pelo grau de desrespeito ao usuário de Sistema Único de Saúde em João Pessoa está o caso do uso de furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas. Valdir Delmiro, médico e presidente da Cooperativa dos Cirurgiões do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, divulgou, em setembro, fotos das furadeiras usadas para realizar cirurgias cranianas.
Por conta disso, o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba abriu sindicância e, na quarta-feira (29), um resultado parcial apontou a falta de equipamentos no Trauma. O corregedor do CRM, José Mário Espínola, informou que a investigação está sendo finalizada e que o relatório da sindicância deve ser analisado em meados de março.
Sobre isso, a Secretaria de Saúde disse que a diretoria técnica do Hospital ainda não recebeu nenhum relatório do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, e que por isso não pode falar a respeito do assunto.

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